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o esforço não é igual ao resultado

  • marcelaperrote
  • 9 de ago. de 2022
  • 6 min de leitura

Atualizado: 21 de fev. de 2024

*Marcela Perrote



Em meu primeiro texto falamos um pouquinho sobre nos concebermos como um milagre. Sobre olhar como os acontecimentos nos atravessam e como a gente é mais do que os fatos, as caixas e as narrativas.


Explorei um pouco da minha história pessoal e ao escrever essa segunda mensagem sinto em retomá-la. Não para falar de uma única perspectiva, mas, leia essa passagem transpondo para sua própria narrativa. As histórias funcionam para ouvirmos a nós mesmos. Como elas mexem e reverberam em cada parte nossa.


Quem me acompanha no instagram talvez já saiba. Desde o ano passado estou passando por um refazimento corpóreo. Começou com uma dor cá e lá, e meses depois perdi movimentos em determinadas áreas do corpo. O processo se deu de forma lenta e gradual, e, embora acompanhada em todas as etapas, ainda assim a bomba não foi desarmada a tempo. E isso abriu uma caixa de pandora: médicos de diferentes disciplinas, redesenhar toda estrutura de vida, fortalecer com quem tava por perto, ancorar ainda mais profundamente meu fazer, e uma travessia que envolve reduzir, selecionar e aprofundar.


Ainda não sabem quem veio primeiro - o ovo ou galinha - e porquê isso ocorreu. Pode ter começado lá bem pequenina. Pode ter vindo de uma herança familiar. Pode ser um efeito pandêmico e pós covid. Podem ser todos os itens reunidos e agrupados.


As variáveis são múltiplas e diversas, buscar o início deste novelo de lã pouco importa. Temos um presente grande o suficiente para cuidar.


E aqui começa essa história sobre reduzir, selecionar e aprofundar.

Aprendemos, numa grande maioria, que tudo deve ser construído com muito esforço. Esforço de disciplina, esforço ao repetir, esforço ao colocar ação, esforço ao definir a meta. Vamos aprendendo que devemos nos esforçar para “subir o topo” da nossa montanha.


Conforme vamos crescendo em desafios, somamos mais esforços. Tanto que hoje somos uma civilização que tem como um grande mal o burnout. Viramos acumuladores de esforços.


Claro, existem questões sociais que não devem ser desconsideradas e que impulsionam tudo isso ainda mais. Mas, em geral, vivemos colecionando afazeres, acumulando tarefas, somando etapas, desdobrando abas, clicando em mil itens ao longo do dia. Como saco sem fundo, só pensamos no que estamos colocando dentro, agarrando ou materializando. Pouco pensamos sobre esvaziar, reduzir e aprofundar. A vida acaba imprimindo um senso de urgência em todas as definições diárias.


Quando acesso o campo de uma pessoa e vamos trabalhar suas informações é muito normal que haja uma sobrecarga, principalmente mental e emocional, de todos esses esforços acumulados. “eu deveria”, “eu tinha que”, “o certo seria”, “não consigo dar conta” - esses são apenas alguns dos exemplos, mas poderia exemplificar inúmeros. Então, na sessão, vamos vagarosamente desarmando esses conectores para que as decisões deixem de ser automáticas e sejam trazidas à luz da consciência cada vez mais. Escolhendo com presença posso delimitar melhor os limites e os ritmos.


E, dentro da minha história pessoal, isso não foi diferente. Já estava cavando grandes mudanças na organização da minha vida há algum tempo, porém eu dava um passo a frente e ufa, sustentava. Dois a frente, e ufa ufa, desfazia do que já podia. Três passos a frente, e ufa, espera. E assim eu estava lá, subindo minha montanha, desfazendo de tudo que podia, mas UFA, ainda assim sustentando e balançando múltiplos pratinhos.


Quando veio essa questão corpórea, onde literalmente minha máquina do fazer parou, o primeiro pensamento foi “e agora, quem vai fazer tudo isso”, “como vou administrar todas essas coisas”, “como vou conseguir manifestar recursos sendo que não posso mais trabalhar no mesmo ritmo de antes”, e inúmeras outras questões. E tudo isso me fez pensar sobre o que era de fato essencial no meu viver do tempo presente.


Não podendo subir a montanha como fazia antes, tive que me desfazer, literalmente, da mochila que carregava nas costas. E aqui estamos falando sobre reduzir.


Olhe tudo que você carrega e sustenta hoje. Em seus relacionamentos, na sua vida prática, em seu trabalho, na elaboração dos seus hobbies, nos planos da sua vida. Se lhe esgotassem todos os recursos neste momento, o que você permaneceria sustentando e carregando? Quais são os itens essenciais de ação, direção e movimento que garantem os principais pilares da sua expressão de vida?


Pensar nessas questões faz com que a gente se importe com o que precisa de importância.


Nos dá perspectiva para saber o que é essencial e primordial e o que é excesso. Normalmente os excessos ganham espaço em nossa vida e nos roubam energia, tempo e clareza. Eles nos deixam escassos porque passamos a pulverizar a força empenhando o mesmo grau de esforço nas mais diferentes tarefas.


Aqui não estamos falando apenas do caráter material (como uma contagem de tempo ou uma determinada área preenchida), e sim nas crenças que existem nesses excessos. Por quê fazê-lo. Escolhê-lo. Elencá-lo como prioridade. O que busco com isso? Onde estão as minhas gratificações, desejos e aspirações?


Pensar em reduzir é desfazer de caixas que foram ocupadas, expectativas cultivadas. E também é sobre bancar e sustentar de fato o que lhe cabe. Numa sociedade que mede por meritocracia e desempenho, dizer que o seu intento é outro pode abrir fluxo na contramão.


Reduzir não é ter pouco. É ter o que você quiser, no volume que almejar, entretanto, focando no que é essencial e vital para você.


Depois que comecei a reduzir e compreender melhor os meus recursos, percebi que era o momento de selecionar. Aqui estamos falando efetivamente da qualidade da conexão. Um exemplo: estou eu lá subindo a montanha, já com uma mochila menor, me deparo com dois caminhos possíveis a minha frente, qual escolho?


Como funciona o meu critério de escolha, de percepção, de sensações? Com qual ímpeto atravesso cada um destes caminhos? Como defino e escolho trabalhar esse movimento essencial na minha trajetória? Aqui estamos falando de um grau de relevância e escolha que só cabe a você.


As pessoas podem lhe apresentar bons modelos, argumentar possibilidades, indicar melhores mapas, mas, como de fato você se sente com cada um deles? Você normalmente escolhe usando abordagens mais racionais, ou envolve teus sentimentos e sensações na tomada de decisão?


Dentro do que você escolheu vivenciar, você está imprimindo o seu ritmo ou transpondo seus limites e possibilidades porque alguém disse que “é assim”? Caso ambos os caminhos sejam difíceis, como você escolhe atravessar? Qual a sua qualidade interna de intenção? Você consegue estar em paz com a sua escolha?


Selecionar compreendendo nosso mecanismo interno faz com que possamos sustentar essa estrutura em sintonia com o sentir. Ela evoca clareza: sei o porquê da escolha, sei o tamanho da travessia, uso o repertório pessoal para facilitar cada passada. É como se ganhássemos tônus interno e a caminhada ficasse mais leve. Evocamos menos esforço. Parece simplório, mas isso reduz a contradição interna. Cabeça e coração podem afinar e caminhar olhando na mesma direção.


E por último, aprofundar. Se você está subindo uma montanha, lembre sempre de parar e mover a cabeça ao redor. Contemple a subida, observe os lados, mire o que ainda falta. Olhe a geografia que se apresenta. Numa subida de montanha isso acontece de forma contínua e em sintonia: experimentar o mundo externo e perceber como acolher isso no mundo interno. E vice-versa.


Para mim, aprofundar tem um quê de contemplação. É na contemplação que nos inspiramos. Na contemplação que podemos alcançar ideias mais abrangentes e enxergar outras formas de execução. Na contemplação deixamos nossa sabedoria divina entrar em ação. E assim, menos esforço novamente.


Em todas as etapas usamos ação, sentimento, sensação, movimento. Tem a sabedoria interna como direção e guia. Tem como estrutura, assumir e ter clareza sobre os intentos pessoais. Essa combinação afinada é um portal para manifestar a essência.


Mover o corpo, mover a vida, mover a fisicalidade na mesma toada que nosso universo interno está sendo regido. Sincronizar as músicas. Respeitar o que mantém vitalidade é dizer sim à vida.


Te convido a explorar essas perguntas em seu próprio mundo. Veja como cabe. Explore desde as coisas práticas até as questões filosóficas do seu viver. Pergunte-se sem esperar respostas. Deixe que sua sabedoria interna trabalhe. Diariamente vai afinando, escutando, reverberando. E na medida do possível, escolha. Escolha melhor, com menos esforço.


E eu? Sigo no meu refazimento. Cada vez mais encontrada. Agora dou preferência a carregar na mochila apenas o que aviva o peito. Solto as pedras pelo caminho. Coração fica feliz, a alma se entrega, o corpo animado que já pode acompanhar melhor essa travessia. Isso não significa que dá sempre sol, mas agora posso usar melhor os meus recursos em dias de chuva e ventania.


Esforço é substituído por movimento em presença.


quando a vida apresentar algo que demanda esforço em demasia, pergunte:


como posso experienciar com mais facilidade, leveza e alegria?

talvez caixas sejam (re)movidas. talvez a forma de realizar seja uma nova.

e tudo bem. desde que fique o que lhe dá vitalidade, brilho nos olhos e calor no coração.


com afeto,

marcela



*Esses textos não correspondem a nenhuma opinião do site em si, são apenas reflexões e sentidos baseados em percepções sobre as sessões que realizo, o que absorvo no meu dia a dia e com a minha própria experiência. Através das inspirações, inspirar e expirar. Abrir mais espaço interno para ser.


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