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adeus à guerra impossível

  • Bruno Goularte
  • 3 de jun. de 2022
  • 8 min de leitura

Atualizado: 29 de jun. de 2022

*Bruno Goularte Ciclos repetitivos de autocobrança e autojulgamento, ao mesmo tempo que dinamitam nossa autoestima, fortalecem o nosso ego.

Nascem dele. Ou então das cobranças e exigências que o mundo nos impõe para que nos tornemos seus escravos.

A gente não pode ser escravos do mundo se não for também escravos do nosso ego.

Quando digo ego estou dizendo só uma palavra. Nesse caso, para me referir à identificação com os nossos pensamentos e suas criações a ponto de nos confundirmos com eles.


Se eu me cobro demais, ou me julgo, ou acho que nunca sou bom em algo, ou que deveria ser diferente, eu estou dizendo que tudo que a vida me dá, todo o milagre da minha existência, não basta. Eu preciso de mais. De algo além.


O problema é que esse diferente não vai chegar porque o diferente que eu realmente preciso está no oposto dele mesmo.


Está no perceber que eu não preciso. Está em não dar importância a essas exigências quase sempre absurdas que não levam em conta as necessidades reais do meu corpo e da minha mente ou as circunstâncias que me fizeram fazer algo que hoje reprovo.


Exigências que sempre se agarram em frustrações que surgem da incapacidade de alterar o passado ou da vontade de alcançar um futuro específico, que, em geral, não tem nada a ver com o ritmo do nosso presente.


Na maioria das vezes, ofendemos o nosso presente dessa forma, inventamos uma guerra absurda contra ele.


É uma guerra absurda porque o presente nunca está em guerra com a gente. Não há diferença entre nós e ele, portanto, não é um inimigo, nós é que compramos nossas ilusões e criamos cismas, separações, um inimigo imaginário.


Como se fossemos um Dom Quixote perdedor, levando sempre a pior mesmo na guerra inventada. Apanhando dos moinhos de ventos. Atirando bombas contra si mesmo.


E assim passamos horas e horas ofendendo o presente quando o presente é tudo o que temos. É tudo o que somos.


Nosso intelecto é condicionado e nos condiciona a fugir do presente. E então quando percebemos que não conseguimos nos sentir bem, ou nos conectar com nossa força, com nossa essência, nos cobramos para isso também, e nos julgamos negativamente por não conseguir. Mas como conseguiríamos? Se nossa força, nossa essência, está no presente. Este de quem vivemos insultando e fugindo.


Todo nosso reservatório de energia está no presente. Tomar decisões baseadas no presente, sem se agarrar aos registros do passado, crenças do passado, estímulos do passado e desejos de futuro, é tomar decisões que nos carregam energeticamente.

Quanto mais carregados estamos, mais conseguimos manter o reservatório preservado. Mais conseguimos não deixar que novos estímulos desvitalizadores entrem. Mais percebemos que não precisamos perpetuar ciclos de julgamento e autocobrança.


Mas como começar depois de tanto desgaste, tanta frustração, tanta cobrança demasiada, julgamentos, apegos, culpas? Isso são guloseimas para o nosso ego e ele continua, com boca salivante e barriga larga, esperando por mais.


O ego não existe no presente. Se formos ver, nem o presente existe. O presente já passou. O presente sempre já passou. Como o ego poderia existir nele?


Eu expliquei o que digo com a palavra ego. Vou explicar o que digo com a palavra presente.


Essa consciência de que estamos constantemente em um fluxo, e que esse fluxo traz mutações e movimentos, é o que chamo de presente. Quando nos ancoramos nessa consciência encontramos o que digo quando falo em reservatório de energia. Presente.


Quando digo que estamos insultando o presente é porque estamos brigando contra o inevitável dele. Contra o que não temos controle. Desrespeitando as demandas dessas mutações porque nossos pensamentos julgam ou preferem outra coisa que não está nelas.


Um exemplo:


se eu não gosto de algo na aparência do meu corpo e fico o tempo todo martelando isso e fico ansioso enquanto isso não muda, eu estou insultando o presente. Porque no presente a aparência do meu corpo é essa. Não haveria desgaste se eu não me importasse em demasia com as cobranças internas e externas para mudar essa aparência. Mas eu me importo. E me cobro. E julgo o meu corpo diariamente. Toda vez que me olho no espelho, me vejo em uma foto, me percebo sendo visto. Então eu talvez me esconda. Ou fique ansioso porque não consigo estar sempre escondido. E isso me faz tomar todo o tipo de ações que caminham na contramão dos movimentos e possibilidades naturais do meu presente, que me trariam boa e fluida energia de criação. Energia essa que, sim, se realmente fosse o melhor para o meu sistema, mudaria minha aparência de uma maneira muito mais natural e sem desgaste.


Mas esse é só um exemplo bobo dentre tantos até mais graves de desrespeito ao presente.


Quando nos cobramos, nesse tipo de caso, acabamos frustrados com nossas ações porque não trazem o que esperávamos, ou com nosso corpo, ou com a vida, e assim estamos prendendo toda a nossa existência aos nossos pensamentos, registros e desejos, que são, na verdade, uma parte muito pequena de nós.


É como se nosso pensamento cobrasse o nosso corpo por algo, esse algo não vem, e então sofremos. Por isso que autocobrança e autojulgamento, por mais que possam vir de uma baixa autoestima, aumentam o nosso ego. Pois elas nos desconectam de um fluxo natural. Do presente. Assim, nos prendemos a uma pequena parcela da nossa existência, como se tudo que somos coubesse ali, dentro do nosso corpo, e então sobrecarregamos inclusive o nosso corpo, os nossos órgãos, que acabam tendo que lidar com todo esse peso e mudam seu funcionamento, suas funções são alteradas, distorcidas, causando desperdício de energia, desequilíbrios desnecessários, doenças físicas ou psicológicas.


Respeitar o presente é respeitar o fluxo natural e assim termos cada vez mais capacidade de criar o nosso presente se integrando a esse fluxo.


Eu não preciso me esforçar tanto para que as mudanças realmente boas aconteçam em minha vida. Se eu estou integrado ao fluxo são as mudanças que chegam em mim, não sou eu que tenho que correr atrás delas.


A primavera chega nas plantas e as flores nascem. As plantas não se desesperam, em pleno inverno, porque as flores não nasceram e saem correndo atrás da primavera, descontentes consigo mesmas durante esse processo. Elas não têm ego.


Mas como, muitas vezes, não sabemos quais são as mudanças realmente boas, ou quando não respeitamos o tempo das coisas, dando o descanso que o corpo precisa, a brincadeira que a alma precisa, a dança que nossa beleza precisa, a aceitação ao que somos que o nosso sistema precisa, perdemos energia buscando algo que quem quer é o nosso ego, entregamos a nossa energia ao mundo, ficamos sem força para perceber ou sustentar as mudanças realmente necessárias que chegariam em seu tempo.


Ok, mas agora eu estou atolado em obrigações, dívidas, demandas, trabalhos, preciso cumprir isso para poder comer, para que meu filho cresça, para pagar o aluguel… Que tempo tenho eu para dar essas coisas todas ao meu sistema?


Essa é uma pergunta lógica. Fácil de ser compreendida. Fácil de ser perguntada pela maioria das pessoas. Mas é uma abstração. É uma fragmentação. Quem pergunta isso está separando todas as suas ações do presente. Está mais entrando em um conflito específico e ideológico do mundo do que se integrando ao mundo. Está falando como se não houvesse presente em suas ações. Está se desintegrando de si mesmo(a). Está se confundindo com seu corpo e se apequenando nele, dando valor demasiado ao seu ego, como se ele fosse do tamanho do mundo por mais que se sinta um(a) miserável.


Quem tem que trabalhar, comer, sustentar é o corpo. O mesmo que precisa de energia. O trabalho e o sustento será menos desgastante a ele se não nos identificarmos apenas com ele durante essas ações.


Essas ações são feitas pelo nosso corpo que está dentro de um planeta, um universo. Acontece que esse corpo, esse planeta e esse universo estão dentro da gente. Se meu corpo sai de casa para ir ao trabalho, eu não saí da minha casa e fui ao meu trabalho, eu ainda estou onde estou. O meu corpo é que se deslocou dentro de mim assim como gases se deslocam dentro dele. A casa e o trabalho seguem dentro de mim. O corpo vai fazer o que ele tiver que fazer. O que tiver que acontecer com ele vai acontecer. E se eu estiver dando atenção ao presente, e não ao que meus pensamentos acham que querem ou sabem sobre o corpo, saberei lidar da melhor maneira com todas as ondas que o tocarem.


Para ter o nível de energia que me permite viver dessa forma, o primeiro passo pode ser, sim, respeitar o presente. Desconstruindo os bloqueios e construindo os alicerces do seu próprio caminho à sua própria maneira. Independente das condições em que o presente coloque o seu corpo nessa vida.


Eu posso fazer algo por mim, pelo meu corpo, e sinto que seria bom fazer? Eu faço. E o que eu não tô podendo fazer? Não faço. É simples. Mas as pessoas se prendem no que não podem fazer. Como eu poderia fazer se, agora, no momento, no presente, não tenho o que fazer sobre isso?


Se tem coisas que eu possa começar planejar, intencionar, direcionar, passos que eu possa dar para que um dia eu possa fazer o que hoje não posso, aí eu começo por aí. Se não tem? Não tem.


Se contentar com isso não é ser passivo. É parar de lutar guerras impossíveis para ter energia para vencer as guerras possíveis. E a cada vitória de uma guerra possível estamos direcionando o nosso corpo às melhores possibilidades em nossas vidas. E a cada momento em que nos debatemos em guerras impossíveis, estamos trazendo a impossibilidade de ganhar qualquer guerra em nossas vidas, estamos criando estagnação, desgaste, desequilíbrios desnecessários, obstáculos desnecessários, muros, cadeados, emoções descontroladas ou apatia.


Você pode ter energia, equilíbrio, vitalidade, saúde, trabalhando em um ambiente tóxico, e até mesmo criar as possibilidades de sair dele quando possível e encontrar um lugar melhor. E você pode ter depressão, doença, desgaste, com dinheiro na sua conta enquanto passa uma temporada de férias no Caribe.


Tudo depende do quanto você está alinhado ao seu momento e não fugindo dele com cobranças, culpas, julgamentos, conflitos desnecessários, guerras impossíveis.


A verdade é que não existe guerra impossível de vencer. Largue a guerra impossível e ela deixa de ser impossível porque deixa de ser guerra.


Uma guerra impossível é uma ficção. Em toda guerra, jogo, disputa, sempre tem que haver uma possibilidade de vencer. Pelo menos uma. Por mais remota que seja.

Se encontramos uma guerra impossível dentro de nós, realmente impossível, aquela em que não temos o que fazer, como fazer, bem, aí não lutamos, certo?


Ela é uma ficção, não é real, é impossível de vencer, por que lutaremos?


Deixa de ser uma guerra. Precisam-se de ao menos dois lados para haver uma guerra. Se nos retiramos. Fica só um lado. Não é mais uma guerra impossível porque não é nem mesmo uma guerra.

Paramos de perder energia com ela e acumulamos energia para conseguir ver quem estava holografando essa guerra ficcional. Uma necessidade de controle? Uma crença que nos aprisionava em uma ideia fixa do que é certo e errado, bonito e feio, bom e ruim? O ego…


Viu só? Algo muito menor do que a gente. Algo como aquele homenzinho medroso por trás do grande e falso Mágico de Oz.








*Esses textos não correspondem a nenhuma opinião do site em si, são apenas conjecturas particulares baseadas em percepções sobre as Sessões do Caminho e o que absorvo no meu dia a dia, sem visar nenhum ponto final



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