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apenas energia ao nosso dispor

  • Bruno Goularte
  • 17 de mai. de 2022
  • 7 min de leitura

*Bruno Goularte


Não há crença que não seja morta. Carregar uma crença é carregar um peso desnecessário. Um peso que nos afasta de aproveitarmos ao máximo a espontaneidade da vida.


Muito se fala em crenças limitantes, mas sendo a crença algo morto, até mesmo a ideia de que existem crenças limitantes a serem eliminadas não seria também uma crença que nos limita?


Podemos passar a vida identificando e solvendo crenças limitantes e outras vão seguir aparecendo. Não seria melhor então apenas permitirmos, cada vez mais em nossas vidas, momentos onde não acreditamos em nada? Onde nos despimos de toda e qualquer crença?


Assim, possamos talvez abrir as portas para visitas mais frequentes de uma sabedoria infinita.


Carregar uma crença é carregar um ponto final. É andar de mãos dadas com um cadeado. Inventar travas que nos impedem de gozar o infinito.


Buscar então momentos onde não acreditamos em nada. Não sabemos de nada. Apenas damos atenção ao desconhecido em movimento. Sem acreditar em qualquer retorno que virá disso. Sem acreditar em qualquer sentimento. Qualquer imagem. Qualquer palavra.


Porque a palavra é também a mãe da crença. Por isso, buscar destruir todas as crenças seria até mesmo parar de se comunicar com o mundo. Mas é possível viver no mundo e se comunicar com ele sem estar agarrado aos seus símbolos e jogos. E isso parece uma ideia mais pacífica de existência.


Porque a palavra em si não é nada. É algo inventado para tentar traduzir o que não se traduz. Quando nos apegamos a palavras vivemos em um mundo imaginário na ânsia de buscar compreender e ser compreendido. Palavras são ferramentas de uma língua, e uma língua é só um sistema.


Algumas pessoas ficaram confusas quando disse em um dos últimos textos que não existe diferença entre dar e receber.


Na verdade, as pessoas não ficaram confusas, mas o cérebro delas, que decodifica tudo dentro de um sistema, sim.


As pessoas apenas se identificaram com esse raciocínio do cérebro ou com esse sistema. O que é normal.


Como que dar e receber são o mesmo se eu justamente estou trabalhando dar menos e receber mais pois venho me desgastando muito nas minhas relações?


O que digo é que dar e receber fazem parte de uma mesma onda. São dois movimentos dessa onda. Não é uma ideia nova. Então, se você sente que em uma situação específica você dá alguma ação que te desgasta, não é que você não esteja recebendo, você está dando a ação e recebendo o desgaste, por exemplo. Você não precisa dar menos e receber mais, quem quantifica isso não é o intelecto. Você precisa deixar mais saudável o seu dar-receber, ou não se apegar ao resultado dessa única onda já que existem outras. Então, talvez você dê um não, um limite, ao invés de um sim, e aí receba algo diferente, que lhe preencha melhor.


Vamos supor que na língua de uma tribo da Polinésia não exista palavra para descrever o que chamamos de dar nem palavra para descrever o que chamamos de receber. Eles têm, no entanto, uma palavra que se chama “kaput”, e ela significa a totalidade desse movimento dar-receber em todas as nossas relações com o mundo interior e exterior. Entende? Eles nunca dividiram esse movimento em dois pedaços.


Eles, portanto, não teriam essas crenças de que estou me doando demais para uma situação e não recebendo nada em troca. Ou de que não merecem receber alguma coisa porque acreditam que não deram o suficiente para isso.


A relação deles com suas emoções, desgastes, presentes, é completamente diferente, apenas porque o sistema em que eles estão inseridos não dá margem, língua, palavra, símbolo, para que eles se apeguem e criem a ideia de determinado tipo de dinâmica.


Imagine agora se nessa tribo, toda vez que sentimos o que chamamos aqui de medo, para eles o que está acontecendo é o evento “titidi yayá”.


E que titidi yayá é uma expressão que poderíamos traduzir como “você está fugindo de algo”.


Então toda vez que alguém dessa tribo sente o que chamamos de medo, isso é um sinal do seu corpo de que essa pessoa está fugindo de alguma coisa essencial para ela ou para o momento.


E assim ela já está sendo instigada a investigar o que gerou isso, sendo mais fácil voltar ao presente e lidar com a situação.


A própria língua dela ajudou com que sanasse o seu medo de uma maneira muito mais rápida do que talvez um ocidental lidaria. Até porque esse sentimento não precisaria nem ser sanado, ele era só um aviso, um alerta, na compreensão deles.


Você não precisa sanar o barulho estranho que ouviu de madrugada vindo da sala e sim entender o que é esse barulho, verificar se há um ladrão na sua casa e chamar a polícia, por exemplo.


O mesmo medo que nos paralisa aqui, ou que achamos que devemos enfrentar, é apenas um alarme nesse outro lugar do mundo.


O mundo seguirá com suas palavras. Nossa cabeça também, milhares de palavras surgindo como pensamentos de minuto a minuto.


Sendo assim, entrar em uma briga contra nossas crenças ou pensamentos não parece muito vantajoso.


Podemos sim reduzir o nosso apego a crenças que impedem nossos fluxos de serem mais saudáveis.


Para isso, não brigar contra essas crenças me parece ser o mais produtivo.


Você não é suas crenças. Você vive muito bem sem elas.


Algumas pessoas quando vêm realizar Sessões do Caminho me dizem que identificaram uma crença e agora querem trabalhá-la ou limpá-la.


Mas se você já identificou a crença, percebeu que ela não te faz bem, você não precisa fazer mais nada. Apenas deixe-a de lado. Não dê a menor bola para ela quando você a encontrar pela vida de novo. Se ela precisa ser curada, ela que busque sua própria cura. Você não é responsável por ela. Ela disse em algum momento que você é dono dela? Por que você acha que ela te pertence ou que é da sua responsabilidade resolver os seus BOs?


Claro que eu posso encontrar raízes, acontecimentos, explosões, frequências que a geraram, ondas que a trouxeram ao seu encontro. Mas você já identificou a crença!!! Percebeu que ela não te faz bem. Por que diabos você quer trabalhar essa crença?


Me deixe olhar o seu sistema e te ajudar a encontrar as crenças que você tem e acha que te fazem bem, ou que nem sabe que estão te devorando por dentro, limitando suas potencialidades. Essa outra que você encontrou já era. Que reste sozinha na solidão. Adeus.


Quando você percebe que uma roupa não te serve mais, você não a coloca na mala em que vai viajar. É simples.


Quando o assunto são crenças limitantes, loopings mentais, compulsões mentais, tendemos a achar que é difícil se desfazer disso.


É porque o sistema em que estamos inseridos trabalha desde o dia em que a gente nasce até a nossa morte para que fiquemos presos em loopings mentais, compulsões, dúvidas e medos.


Não adianta vir Jesus dizer que você não tem que se preocupar com o que vai comer ou vestir amanhã. Não adianta nem você acreditar que Jesus é Deus encarnado, ler o sermão da montanha todos os dias, comover-se com ele, porque você ainda vai tá preocupado em como vai pagar seu aluguel no fim do mês ou aumentar sua renda.


Isso não é um exercício de imaginação. Isso acontece com muita gente.


As pessoas acreditam que Jesus é Deus encarnado e não acreditam nele quando ele diz que as pessoas não precisam se preocupar com dinheiro.


O sistema é que é o Deus encarnado da pessoa então, né? Não Jesus. Não a natureza. O sistema…


E esse é só mais um exercício para mostrar como as crenças são vazias em si mesmas, por mais fortes, honrosas, definitivas que nos pareçam.


O sistema fez a gente funcionar assim, a gente perde quando quer brigar contra ele porque ele está há anos em atividade dentro de nós. Achamos que é difícil sair dele, se desligar dele, porque ele mesmo nos fez categorizar as coisas, supervalorizar o intelecto e a compreensão das coisas, a ponto de acharmos que podemos julgar o que é fácil e difícil e criarmos situações fáceis e difíceis nas nossas vidas. Ao ponto onde não sabemos mais onde termina o sistema e começa a gente.


Portanto, destruir o vínculo com nossas limitações se torna uma tarefa que nos demanda uma enorme energia criadora, mas não temos essa energia porque ela é drenada pelos loopings em que o sistema nos coloca.


Acredito ainda que a solução pode estar na pergunta do início do texto:


Não seria melhor apenas permitirmos, cada vez mais em nossas vidas, momentos onde não acreditamos em nada? Onde nos despimos de toda e qualquer crença?


E aos poucos e com muita paciência esses momentos vão nos dar a energia que precisamos para que possamos romper, primeiro, o pensamento de que isso é difícil.


Ele é nossa primeira barreira.


O não consigo. O é difícil.


A gente vai seguir “errando” até lá. Dando com os burros na água. Mas vai seguir cavando também momentos onde não acreditamos em nada. Onde as compulsões, limitações, loopings, crenças, aparecem e nós dizemos ok, mas eu não acredito nem nas palavras, nem nos pensamentos, nem nos sentimentos, e sigo olhando para o que está na minha frente, seja o céu ou a nuca de alguém no metrô, e nem que essa nuca é de fato uma nuca eu acredito, e nem que o céu é o que me falaram que o céu é eu acredito, o pensamento pode vir e chamá-la de nuca, o pensamento pode classificar o céu como azul, eu apenas olho, porque é isso que meu corpo tá fazendo, e pronto.


Os pensamentos repetitivos? A crença? A preocupação? Eles que cuidem deles.


Se você não está olhando para eles, eles deixam de ser vivos.


Se você não está brigando contra eles, eles não precisam ser mortos.


Eles se tornam o gato de Schrödinger da física quântica, nem vivos nem mortos. E quando as coisas estão nesse lugar, nesse vazio, elas se tornam apenas energia ao nosso dispor.


Energia que nos dará a capacidade criadora de viver em um mundo além das crenças, atraindo situações, relações, acidentes, que tenham mais a ver com nossa essência do que com as crenças em si.





*Esses textos não correspondem a nenhuma opinião do site em si, são apenas conjecturas particulares baseadas em percepções sobre as Sessões do Caminho e o que absorvo no meu dia a dia.


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