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dar e receber são a mesma coisa

  • Bruno Goularte
  • 2 de mai. de 2022
  • 8 min de leitura

Atualizado: 3 de mai. de 2022

Bruno Goularte*



A gente não aprende a receber de nenhuma forma. Ou então a gente aprende um falso receber. E daí sentimos mais desgaste que o necessário, ao invés de carregarmos uma força criadora capaz de lidar com o que quer que a gente precise.


É normal a gente ler ou ouvir por aí que não podemos dar para os outros se não estamos dando primeiro para nós. Muita gente precisa desse conselho. Muitas pessoas aparecem para realizar sessões comigo com esse tipo de queixa. Mas isso também é uma dinâmica inventada por nós. Não é natural. São apenas palavras. Dar. Receber.


Se estivéssemos despidos dessas palavras e do que acreditamos sobre elas, não precisaríamos nos preocupar com o quanto damos e o quanto recebemos, ou com o quanto damos a nós mesmos e aos outros e se isso está equilibrado. Essa busca por equilíbrio, por sinal, pode fazer com que melhoremos superficialmente algumas áreas da nossa vida, mas também faz com que busquemos coisas que não existem, gera frustração, e ações desnecessárias.


Não existe um receber em que não estejamos dando e um dar em que não estejamos recebendo.


Porque, na essência das coisas, não existe dar E receber. Não assim. De maneira excludente, fragmentada. Dar e receber são a mesma coisa. Vêm do mesmo lugar. Fazem parte de uma única dinâmica. Assim como não existe masculino e feminino, por exemplo. Ou um elemento diferente de outro elemento.


A categorização de processos serve para nos comunicarmos, para entendermos um pouco o funcionamento da dança da vida, mas não para sermos ou buscarmos aperfeiçoar um pretenso equilíbrio nessa dança. A vida vai seguir dançando. Não é nossa personalidade e nossa busca que faz a vida dançar. A nossa personalidade faz parte dessa dança apenas. E é por não percebermos isso. Por sermos estimulados a cultuar nossas personalidades ou a trabalhá-las para que sejam puras, vencedoras, ou sei lá o quê, que nos distanciamos do aprender a receber.


Digamos que a dança da vida, no momento, está fazendo girarmos para a esquerda e a nossa personalidade atual se recusa a dar atenção a isso pois está preocupada em girar à direita. Ela acha que lá está o que precisa. E então deixa de receber toda a força que esse movimento da esquerda poderia nos dar em sua pureza.


E pior, baseados no nosso sistema de crenças, às vezes julgamos esse movimento como errado e criamos desgaste ao achar que ele está nos desgastando.


O preenchimento e o desgaste vão estar sempre juntos na dança da vida. A gente pode se energizar aceitando um momento de desgaste, por exemplo, se soubermos o que é receber. Assim como muitas vezes nos desgastamos por não aceitar um momento de preenchimento, por também não sabermos receber.


Algumas tentativas de exemplos:


um lindo pôr do sol se apresenta para você, mas você não dá atenção a ele porque tem que estudar para uma prova e acha que não pode perder tempo. Então você segue com a cabeça baixa, lendo seu livro;


duas horas depois, o seu corpo sente sono, seria ótimo tirar um cochilo, ou ir dormir, mas você toma energético porque acha que pode aproveitar um pouco mais do dia para aprender a matéria que estuda;


uma dor na lombar aparece, seria bom levantar e alongar o corpo, mas isso é menos importante que o conteúdo da prova também, então segue estudando enquanto ao mesmo tempo os pensamentos percebem, registram e reclamam da dor.


São três momentos de preenchimento de energia que se disponibilizaram para você. Contemplar o pôr do sol. Dormir. A dor no corpo que pede um alongamento. Mas sua personalidade não os aceitou e produziu desgaste na contramão do ciclo dos astros e do ciclo do seu corpo.


Porém, somos tão analfabetos no dar-receber, que mesmo se aceitássemos poderíamos gerar desgaste.


Apenas buscar a integração, o sentir, um pouco além das estruturas fixas da rotina, seria o suficiente para recebermos todo o potencial que podemos receber e mantermos conosco?


Não é assim. Eu posso seguir na contramão do preenchimento mesmo parando para olhar o pôr do sol.


Eu posso olhar o pôr do sol sem estar presente no ato, porque na minha cabeça a preocupação com a prova segue a mil.


Eu posso olhar o pôr do sol munido(a) da crença interna de que ver o pôr do sol me relaxa. E aí eu estaria usando minha energia para construir com meu intelecto uma sensação de relaxamento e bem-estar baseado numa crença.


Eu me sentiria bem por um tempo, mas o aproveitamento de uma energia realmente criadora, manifestadora, dentro de mim, seria nulo. Seria um falso receber. Ou um receber muito limitado.


Buscar não embarcar nas crenças construídas e registradas por e pelos nossos pensamentos e memória seria então um passo para receber de verdade?


Olhar o pôr do sol, o azul do céu, a parede branca do quarto, sem se agarrar a nenhuma sensação construída pelos pensamentos. Estudar um livro da mesma maneira. Ouvir uma pessoa da mesma maneira… Dando espaço para que brote o nosso sentir e seja ele que nos leve para a próxima ação, ao invés de sermos guiados pelas crenças internas que possuímos.

É assim que talvez o dar e receber se torne algo natural e uma coisa só. Pois nos integramos ao movimento de rotação do momento e não brigamos contra ele.


É quando como algum cliente pede para que eu limpe a relação dele com um colega de trabalho ou um familiar, por exemplo, pois é uma pessoa que tem “energia negativa” e isso o esgota.

Isso já aconteceu com você? Estava bem e encontrou com alguém, saiu mal, sentindo peso ou desgaste. É um lugar comum. Até mesmo um clichê que usam para explicar por que devemos cuidar da nossa energia, ou nos limparmos energeticamente etc.


Mas de acordo com o que percebo nos meus anos de trabalho e observação, não é a pessoa “negativa” que te carrega negativamente, é seu olhar sobre ela, ou mesmo um olhar que você não percebe instantaneamente, que você não julga com a consciência ativa, mas que está presente no seu sistema interno de crenças e registros.


Eu nunca tenho que limpar então a energia da pessoa no cliente. Eu tenho apenas que trabalhar a energia do cliente. Quando o cliente se identificou com algo da pessoa, julgou a pessoa, se relacionou com a pessoa brigando com algum fluxo natural dentro dele, acreditou que algo dessa relação ou da pessoa o prejudica, se culpou por ter se relacionado com a pessoa. Ele pode sim ter coisas para trabalhar dessa relação nele, mas não é por causa da pessoa, é porque assim como não há diferença essencial entre dar e receber, não há diferença essencial entre ele e a pessoa, e ele carregou consigo o ponto onde se identificou ou se preocupou ou onde os seus sistemas antinaturais de crença o colocaram dentro da pessoa e a pessoa dentro dele.

E é isso que vamos desembaralhar ou que o cliente terá que aprender a demolir. Se apenas limpar o que carrega de energia da pessoa, logo o sistema dele estará puxando mais desse tipo de sujeira. É um ciclo natural e sem fim.


Seguimos com exemplos:

o vizinho está escutando uma música que eu adoro enquanto eu faxino a minha casa. Tudo flui naturalmente e me sinto feliz e leve quando a limpeza acaba. Eu estou recebendo algo agradável do ambiente do vizinho e dando algo agradável ao meu ambiente;


o vizinho está escutando uma música que eu detesto enquanto eu faxino a minha casa. Eu fico irritado. Eu posso vir a estragar algo, inclusive, ou apenas me sentir muito cansado quando a limpeza acaba. Eu estou recebendo algo que me desagrada e dando para a tarefa, para o lar e para o corpo tons desagradáveis.


Isso não diz respeito ao vizinho. E sim às minhas construções e crenças e como eu recebo as informações do mundo e me deixo ser influenciado pelo que penso sobre elas, e não apenas recebo por receber.


Coloque uma música que você detesta e dê atenção a ela sem se agarrar aos julgamentos da mente, ou faça isso quando passar por uma britadeira funcionando na rua. Receba o som pelo som e perceba como é possível se abastecer com a energia dele se não criar com sua imaginação uma situação onde isso é ruim e desgastante.


Converse com alguém que costuma te tirar a paciência apenas dando atenção. A olhando com os olhos do coração, vivo, imparcial, pulsante e não com os olhos da sua memória, se agarrando a pensamentos e distrações dos seus registros internos, que são mortos, por serem ideias fixas. Perceba como a impaciência vai sumir nessa hora. Como algo até compreensível vai surgir em relação a pessoa. Ou então como virá a vontade de acabar com aquela conversa, dar um limite, e você vai ter energia para respeitar isso, pois não estará dando bola para a crença dentro de você que dirá que isso é errado.


Dar e receber são a mesma coisa. Dar é um movimento do fluxo, receber é um movimento do fluxo. É claro que uma música de Bach e uma música da banda Cannibal Corpse estão carregadas com frequências distintas. Mas ambas são frequências. Uma pessoa falando que me ama e uma pessoa falando que me odeia trazem frequências distintas para as palavras que emanam, mas ambas são frequências e palavras.


E se eu não julgar a energia dessas frequências como ruins ou boas? Se eu apenas receber a energia como energia? Então eu só terei mais energia em mim, não importa se é britadeira ou se é meu músico preferido tocando na rádio.


Essa não é uma ideia comum de se ver por aí. Eu não a vejo, pelo menos. Estamos em um sistema que parece querer nos prender às suas categorias, emoções, construções etc. E mesmo muitos que pensam que estão fora do sistema, ainda elegem o sistema como algo que é danoso e se tem que fugir, ou seja, estão gerando um conflito permanente em suas vidas.


Não é uma ideia comum. Não mesmo. Podemos dialogar mais sobre ela e a checarmos se não a julgarmos prontamente como algo certo ou errado. Se a vivermos como algo que flui e não tem fim, não bateremos o martelo aqui. Não mesmo.


Meu corpo é energia, matéria, e existe algo não material que o nutre ou constrói. Ele faz parte de um sistema que sabe o que fazer com a energia que dá e recebe. Ele é feito da mesma substância que tudo no mundo é feito. E se choca com esses outros corpos visíveis ou não. E atrai e repulsa.


Se eu não segurar uma impressão sobre essa energia, o corpo vai saber o que fazer com ela, não a carregará consigo se nosso apego aos pensamentos e sentimentos não escolherem carregar. Porque o corpo não precisa disso.


E assim teremos mais vitalidade, pois estaremos apenas com o necessário.


Olhe seus olhos no espelho. Olhe com atenção para os seus olhos no espelho. Pensamentos irão surgir enquanto isso. Você vai se achar feio(a) ou bonito(a). Você vai perceber uma espinha crescendo no seu nariz, enfim. Não se agarre aos seus pensamentos. Eles já passaram. Morreram. “Deixe que os mortos cuidem dos mortos”, como disse Jesus, e siga olhando seus olhos. Que são vivos. Vibrantes.


Pratique isso e sinta a força que surge aos poucos, o bem-estar, o sentimento de que tá tudo bem, a vitalidade, o amor, pois é isso que você vai encontrar olhando os seus olhos, você pode encontrar o núcleo do átomo olhando seus olhos, de uma maneira muito mais profunda que os cientistas, você pode sentir o núcleo do núcleo do átomo olhando os seus olhos, vai lá, você pode sentir o que criou o átomo, de repente, e aí nada será dar e receber, água e fogo, ar e terra, próton, elétron e nêutron, masculino e feminino, nenhum desgaste, nenhuma separação, nada morto. Vida, talvez. Ou algo que nenhuma palavra irá tocar.




*Esses textos não correspondem a nenhuma opinião do site em si, são apenas conjecturas particulares baseadas em percepções sobre as Sessões do Caminho e o que absorvo no meu dia a dia. Para receber meus próximos textos por e-mail, inscreva-se neste link. Para agendar ou saber mais sobre as sessões, clique aqui.



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