top of page

para além dos bebês atômicos

  • Bruno Goularte
  • 10 de mai. de 2022
  • 6 min de leitura

Bruno Goularte*



Tudo o que conhecemos são explosões.


Passamos por elas, somos formados e transformados por elas.


É bom ter em mente que aqui onde estamos agora também somos apenas isso, mais uma explosão.


E tudo isso.


Dois movimentos que se chocam e geram outros movimentos.


Para a ciência, toda a nossa existência está baseada apenas nisso.

Para ela, somos frutos dessas explosões. Bebês atômicos.


E se uma explosão forma um planeta. E explosões formam pessoas. E dentro das pessoas a toda hora estão acontecendo centenas de pequenas explosões. Estamos aqui vivendo, como indivíduos, o resultado de vários choques, acidentes.


É uma soma de acidentes que fizeram com que seu pai conhecesse sua mãe e em algum momento o acidente que foi o encontro deles gerasse uma grande explosão de eletricidade e energia magnética da qual seu corpo saiu. Vida..


Se houve afeto nessa ação, ou culpa. Se houve violência. Se houve medo. Se houve alegria. Se houve prazer ou houve dor. Isso é só o resultado dos mais variados encontros, choques, acidentes, explosões que manifestaram a vida, os hábitos, os gostos, as crenças, a cultura, o conhecimento e a ignorância tanto do seu pai quanto da sua mãe.


Se há uma força maior orquestrando esses choques, se há um destino escrito e todos esses acidentes levarão a ele, se o caos é organizado ou não, qual a sua origem, não cabe ao nosso intelecto se preocupar em responder. É distração.


O nosso intelecto, os nossos pensamentos, eles não sabem nada sobre a verdade.


O nosso intelecto sabe por que a gente nasce de uma maneira apenas ingênua, biológica. Espermatozóide, óvulo... Mas ele não sabe o PORQUÊ da gente nascer.


O nosso intelecto sabe que a gente morre porque o corpo passa por um processo de velhice, decomposição, ou porque um fluxo do funcionamento da nossa máquina é interrompido, mas ele não sabe o PORQUÊ da gente morrer.


Nem o PORQUÊ da gente chorar, sorrir, matar.


Tentar buscar explicações maiores com o intelecto então é um desgaste. Pois tudo que ele gerará será falso conforto ou sofrimento.


Quantos clientes em luto chegam nas minhas sessões sofrendo muito, por anos a fio, ainda querendo uma resposta de por que aquela perda aconteceu. Como se o motivo dela fosse lhe trazer a paz...


E quantas pessoas dão respostas baseadas em crenças apenas para amenizar a dor?


Nós mesmos inventamos muitas vezes. Ah, eu perdi essa pessoa, esse trabalho, essa disputa, porque eu tinha que aprender tal e tal coisa. Faz parte do meu propósito.


Tudo bem, você aprendeu tal coisa com o que lhe aconteceu. Mas foi por isso mesmo que aconteceu? É essa a sua resposta para o ocorrido acidente?


Não sei.


O intelecto não sabe.


O intelecto ainda tem essa tendência de consolar a dor de um acontecimento trazendo-o para si na forma de um propósito e aprendizado, só aumentando assim nosso ego e senso de individualidade.


Não que a gente não aprenda com o que nos acontece, mas se pensarmos apenas sob esse ponto de vista corremos o risco de esquecer que somos também, enquanto pessoas, só mais um acontecimento.


A tristeza de um luto é natural. Até mesmo alguns animais sofrem quando seus parceiros fenecem.


Querer encontrar um sentido pessoal para essa tristeza ou uma resposta do porquê isso tinha que acontecer é carregar esse sentimento além do tempo natural das coisas. O sofrimento virá de uma forma ou de outra.


Se um acidente ensina qualquer coisa. Ótimo. Esse aprendizado influenciará próximos acontecimentos, acidentes, que o intelecto julgará como bons ou ruins. Se não te ensina, o mesmo.


É por isso que, no fim das contas, tudo o que criamos como expressão nesse mundo não nos pertence de fato.


E se achamos que nos pertence, se acreditamos que o acidente, bom ou ruim, é nosso, apenas alimentamos nosso ego e geramos mais conflito e sofrimento.


A perda de alguém ou de algo não lhe pertence assim como o nascimento de alguém ou de algo não lhe pertence.


Quantos pais sofrem e geram sofrimento até entender que seus filhos, os sonhos dos seus filhos, os caminhos dos seus filhos e suas tristezas e felicidades não lhe pertencem?


Quantos artistas caem em profunda desgraça por pensarem que as obras que saíram de sua capacidade de expressão lhe pertencem?


Vamos dizer que você compôs uma música.


Você pode sim dizer que a compôs. Que ela é sua propriedade intelectual, a fim de registrá-la e ganhar algum dinheiro. Isso é justo. Houve tempo e energia gastos, investimento.


Mas o que o levou a compor a música, a saber elaborar uma harmonia, a ter uma mensagem para colocar na canção, não dependeu de você.


De repente você nasceu em uma família e viveu as circunstâncias e os acidentes que o fizeram chegar a ver um tio tocar violão na sua infância.


Você se encantou pelo violão. Mas acidentes poderiam ter acontecido e não terem feito você estar naquele momento.


Seu pai poderia ter usado camisinha.


Sua mãe poderia ter lhe colocado de castigo justamente no dia que o tio tocaria aquele violão.


A corda do violão poderia ter arrebentado minutos antes de você chegar.


Você poderia ser reconhecido como um grande jogador(a) de futebol no colégio e esse reconhecimento lhe faria preferir jogar bola toda tarde ao invés de ficar em casa aprendendo a tocar.


Mas o resultado do encontro genético da sua ancestralidade explodindo e gerando você talvez não tenha lhe dado um corpo muito propenso aos esportes e talvez você até sofreu certo bullying na escola fazendo com que tudo que você tivesse durante suas tardes fosse a companhia de um violão.


Enfim, é uma sucessão de acidentes que lhe faz tocar um acorde e pensar na palavra exata, no verso exato, que dará começo a uma nova canção. Ou pintar um quadro. Ou ter a ideia que lhe fará escrever um livro de sucesso.


E assim a tudo na vida.


Coisas chegam e saem da gente o tempo todo.


Somos abastecidos por milhares de matérias sutis que vêm do espaço e nos dão vida e até mesmo influenciam nossas emoções.


Portanto, tudo que a gente expressa pertence ao universo inteiro, e não ao nosso indivíduo somente.


Se eu me agarrar ao que crio, ao que expresso, a ponto de pensar que aquilo me pertence, o que acontecerá é que eu me confundirei com a minha obra e gerarei conflitos internos em mim porque na verdade eu sou muito mais que ela.


Eu sou igual a minha obra da mesma forma que eu sou igual a quem não criou a minha obra. Tanto eu quanto ela quanto tudo e todos que conhecemos são frutos de milhares de encontros, trocas, acidentes, explosões.


Portanto nada pode me pertencer.


Da mesma forma que não sou igual a ninguém por ser resultado de um conjunto único de explosões que me fizeram estar aqui. Sou igual a todos. Porque todos são resultados de conjuntos únicos de explosões.


Entende?


Não existe igual e diferente. Só existe o que é. E isso é tudo o que há.


Quando nos confundimos com os resultados dessas explosões, ou nos prendemos a eles, nos apequenamos.


Corremos o risco de achar que somos o nosso trabalho, por exemplo.


Quantas pessoas ao serem perguntadas algo como "me fale sobre você" respondem imediatamente as suas funções na sociedade.


Bem, eu sou jornalista, advogado, médico, ex-BBB...


Não é nada demais, mas ilustra um pouco do quanto podemos nos confundir e acharmos que o resultado dos acidentes e encontros pelos quais passamos nos pertencem.


E o quanto nos identificamos com esses acidentes sem perceber que toda nossa individualidade intelectual é só mais um acidente.


E assim nos fechamos em muros. Viramos iscas fáceis de qualquer sistema opressor. Até mesmo os que criamos.


Se buscamos muito as repostas com o intelecto, estamos buscando apenas dentro dos nossos registros de acidentes. Não tocamos o que é invisível e o que é maior, pois a memória é uma biblioteca muito limitada.


Se buscamos muito as respostas com o intelecto, fechamos o coração. E aí a verdade não vem. Porque no nosso coração está a verdade.


Corremos o risco de não tomar conhecimento da nossa grandeza. Uma grandeza que nos leva para além do bebê atômico. E que vem justamente de saber que o intelecto não tem as respostas e nem precisa ter, e que se algo nos pertence é apenas a liberdade que nasce daí. Essa infinita liberdade, que muitas pessoas chamam de deus ou amor.




*Esses textos não correspondem a nenhuma opinião do site em si, são apenas conjecturas particulares baseadas em percepções sobre as Sessões do Caminho e o que absorvo no meu dia a dia.


Para receber meus próximos textos por e-mail, inscreva-se neste link. Para agendar ou saber mais sobre as sessões, clique aqui.




ree


Comentários


bottom of page