o tempo das coisas
- marcelaperrote
- 21 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
embora - globalmente - estejamos sincrônicos no calendário gregoriano, outras culturas também acreditam na contagem do tempo noutra forma. e isso é muito interessante quando pensamos no recorte do tempo em nossa vida. como os termos “externos” guiam o nosso mundo interno e por aí vai.
na sociedade atual vivemos correndo contra o tempo. a sensação de sobrecarga é constante. houve um aumento significativo no fluxo de troca e informação, e talvez não houve o mesmo aumento no quesito “tempo de qualidade”.
nos relacionamos cada vez mais com um tempo concreto, enquanto o tempo eterno esteja conectado a uma frequência mais imaterial - a que chamamos de Kairós.
para acessar o tempo no formato Kairós é necessário um certo alinhamento interno. no sentido de abrir-se para conectar o mundo concreto com o mundo simbólico.
o mundo simbólico é tão relevante quanto o mundo concreto, é um fluxo que acontece em intercâmbio constante, entretanto, quanto mais nos apegamos ao calendário gregoriano, ao tempo concreto, ao fazer mecânico e funcional, mais nos desconectamos desse tempo imaterial.
e como alcançá-lo então?
bom, muito provavelmente, você e eu nascemos nesse tempo marcado pela revolução industrial e tantos outros marcos históricos que hoje ditam as regras do que conhecemos como o nosso “mundo” atual. então, diria que existe um certo “desfazer” de condicionamentos a seguir pela vida. compreendendo o nosso tempo interno e imaterial.
a palavra é descondicionar.
reconhecemos o mundo como ele foi formado hoje. como nos ensinaram que é bom. as regras e leis que nos foram apresentadas são os códigos morais e sociais que constroem e fundamentam a nossa realidade. então, no processo de descondicionar, precisamos levar a atenção atenta e presente para nossas pequenas decisões diárias. algo como “o quanto de mim age e reage desta forma porque é o que sinto / acredito / penso / enxergo, ou apenas por que é assim que é?”.
você pode começar colocando essa atenção em uma coisa pequenina, algo bastante cotidiano. que seja o motivo de você tomar café preto toda manhã.
você gosta do sabor? teu corpo digere bem? você se alegra preparando e conectando-se com ele diariamente? como é esse momento pré, durante e pós? você toma por que leu em algum lugar dizendo que isso tinha uma função relevante?
essa é uma anotação interna - que você pode escolher registrar ou não. ao lapidamos esse raciocínio diariamente, vamos removendo pequenas cortinas de fumaça. percebemos onde estamos colocando o nosso Sim e o nosso Não no viver.
de repente você percebe que muitas coisas que faz estavam no modo automático, e, portanto, muito conectados com esse tempo concreto, funcional, que rege apenas a mecanicidade do viver. então, quando você leva a atenção, você pode desfrutar a passagem do tempo com mais qualidade, mais inteireza, e mais responsabilidade.
a responsabilidade aqui está colocada como “ato de ser o condutor do seu veículo pessoal”, e isso abre espaço para ancoramos mais clareza acerca do nosso livre-arbítrio.
pensamos que o livre-arbítrio é um restaurante rodízio com todas as comidas disponíveis do mundo: as que amamos, as que odiamos, as que temos que comer por obrigatoriedade pensando em nossas enzimas corporais. mas bem, na verdade o livre arbítrio está mais para uma clareza de contemplar suas diferentes atuações no viver e fazer escolhas de forma presente e disciplinada para elas. entender as necessidades físicas, psíquicas, emocionais, e combiná-las numa dança suave chamada tempo presente.
tem coisas que precisaremos fazer. mas como escolheremos fazer?
colocamos muita disciplina e rigidez em assuntos que talvez nem nos comprometemos internamente, assumimos assim um estado automático de repetições. e sem perceber, construímos a disciplina baseada em pilares dormentes.
confundimos o fazer mecânico com o fazer imerso de Kairós.
encontre o propósito em seus feitos, o porquê de sustentá-los, e assim você poderá escolher o que fica, o que sai e o que precisa ser ressignificado para ser mantido.
a vida é feita de sustentar coisas boas e coisas difíceis. estamos experimentando a realidade dual. navegar entre será sempre um bom caminho. respirar e ter consistência nas braçadas e na presença corpo-mente-espírito será uma forma de você ondular no tempo que reúne concreto & simbólico. material & imaterial.
estamos aqui para manifestar a experiência do viver.
somos ancoradores da nossa expressão imaterial.
te desejo presença.
que possamos mergulhar em nosso coração e descobrir verdadeiramente quem somos.
com carinho,
marcela
**** Este texto foi escrito em janeiro de 2023 e enviado na mesma época para a lista dos inscritos que recebem as cartas virtuais. Agora, finalmente publicado aqui. ;)
*Esses textos não correspondem a nenhuma opinião do site em si, são apenas elaborações particulares baseadas na minha experiência pessoal e o que absorvo ao viver, construções sempre em tecedura e renovação.
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